A participação numa Maratona – o desafio dos 42.195m

Quando nos aproximamos a passos largos da Maratona do Porto, verificamos todos os dias um pouco por todo o lado atletas amadores a investir horas de treino na sua preparação física para a prova rainha do atletismo. Prova essa que tem registado um crescimento enorme no seu numero de participantes e “finisher’s” e que este ano, no Porto, pretende alicerçar ainda mais essa evolução, com novo record à vista.

Maratona

Objectivos

Com diferentes objectivos, cada atleta prepara a sua prova ambicionando alcançar uma determinada marca de tempo para a concluir, ou meramente procura preparar o organismo para o desgaste de uma prova longa e desgastante com o intuito de a terminar e celebrar o prazer de cumprir a distância mítica e histórica do atletismo.

Se cada Maratona traduz uma experiência diferente para um atleta profissional, muito mais o será para os milhares de amadores que, pela paixão da corrida procuram alcançar as suas metas nesta distância, após longas semanas e meses de treino. Ou seja, cada prova traz-nos diferentes experiencias e dificuldades com as quais, aprendemos a gerir melhor o nosso esforço, a lidar com contratempos e a ultrapassar barreiras, quer sejam elas físicas ou psicológicas.

 

Que objectivos?

Quando nos deparamos com desafios desta dimensão e exigência, e à medida que nos aproximamos do dia de o “enfrentar”, conjecturamos diferentes perspectivas e cenários com que nos podemos deparar, com os quais projetamos uma perspectiva da nossa performance ao longo do percurso, bem como um possível resultado final.

Será que na maior parte das vezes estamos a ser realistas e temos uma noção correta das nossas capacidades e potencialidades no momento em questão? Verifica-se comummente que que, por excesso ou por defeito, muitas vezes esta análise é lançada para o ar sem uma base sólida de conhecimento do que nós somos realmente capazes de executar.

Muitos atletas definem objectivos por referências que vão reunindo de companheiros de treino, por um ideal de resultado final, por um maior ou menor nível da ambição, etc. Em todas estas situações e, apesar da Maratona ser para muitos dos atletas amadores uma prova com um desenlace muito incógnito:

  • pode-se em grande parte das vezes comprometer um resultado melhor, por limitarmos à partida o nosso “pace” (velocidade de corrida) por referências que podem ser pouco válidas para o nosso potencial. A intensidade de esforço que conseguimos suportar durante tanto tempo carece em grande parte dos casos, de uma análise mais cuidada, por forma a conseguirmos estabelecer com coerência o ritmo a empreender ao longo do nosso percurso;
  • noutros casos, podemos perspectivar uma capacidade de acima das nossas possibilidades, o que acabará por comprometer a curto/médio prazo (na prova) quaisquer aspirações mais elevadas, pois numa distância tão grande, cada minuto que se perde, muito dificilmente será recuperado até final da prova;
  • não poderia deixar de referir os casos em que acertamos no objectivo e ritmo de prova, e conseguimos com sucesso superar tão grande desafio com sucesso.

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Toda esta explanação serve essencialmente para alertar que devemos procurar olhar com mais rigor para o que treinamos e para o que somos em termos físicos, pois, já que “vamos à Maratona”, que os nossos objectivos não deixem de ser desafiantes, mas ao mesmo tempo coerentes. Uma grande parte dos atletas amadores sente-se capaz de se auto-treinar e por si próprio gerir toda a intensidade e volume de carga ao longo dos treinos, contudo, o treino apesar de parecer demasiado básico, envolve dinâmicas importantes entre cargas, volumes, grupos musculares e sistemas energéticos solicitados, entre outros, que um corredor comum apesar de “sentir o esforço” e o desgaste, não é capaz de saber ao certo a repercussão real que cada treino tem na sua evolução. Muitas destas situações de auto-treino ou de seguimento de um treino genérico e não programado por um profissional do desporto, resulta em estagnações na evolução e nos resultados alcançados.

Uma análise mais pormenorizada acerca do nosso trajeto ao longo dos  treinos e provas (por parte de um treinador) é uma mais valia para ajudar a gerir a intensidade do esforço. Uma avaliação fisiológica, que cada vez é mais acessível ao praticante comum, é um apoio científico ainda mais rigoroso e importante, na medida em que permite saber com precisão os ritmos de corrida e respectivos sistemas energéticos envolvidos, e com esses dados, preparar ainda mais afincadamente a prova, e saber ao certo os ritmos de treino a empreender ao longo da mesma. Estas avaliações, além de nos abrirem o conhecimento acerca das nossas capacidades atuais, permitem-nos estabelecer objectivos a médio e longo prazo, que podem realmente ser alcançados se alicerçados em treino mais personalizado a cada um.

Nota final

Independentemente do nível de treino de cada um, ao nos propormos realizar uma Maratona, é minha opinião que a preparação para a mesma deve ser meticulosamente planeada por um profissional da área. Não por questões de brio de ter um treinador pessoal, mas sim por questões de saúde e bem estar. Uma prova desta dimensão representa um impacto muito grande no nosso organismo, não só a nível muscular, como ósseo, articular, sanguíneo (fisiológico), etc… e os dias e semanas que se seguem são a prova disso mesmo. Logo, todo o cuidado é pouco! Até porque, o vício da corrida está m franco crescimento… e após esta maratona, iremos querer realizar outra(s).

Bons treinos!

Tiago Aragão

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